SC Transplantes celebra 25 anos salvando vidas e transformando histórias |
Em novembro de 1944, enquanto o rigoroso inverno se aproximava dos Apeninos, que corta a Itália de norte a sul, o Alto Comando aliado estabelecia uma meta: a cidade de Bolonha deveria ser conquistada de qualquer jeito até o Natal. Para eles, o ano havia sido bastante positivo no cenário europeu. A divisão expedicionária brasileira estava praticamente completa, o que teoricamente a habilitava a ser empregada no esforço para romper a "Linha Gótica" alemã em direção a Bolonha. Os pracinhas foram escalados no final de novembro para atacar, ao lado dos norte-americanos, um conjunto de elevações que tinham como pontos principais o Monte Belvedere e o Monte Castelo. Aos brasileiros, cabia conquistar este último.
Além da falta de treinamento apropriado cada soldado carregava 25 quilos de equipamentos. Nos deslocamentos morro acima deveriam procurar abrigo atrás das rochas, uma vez que a vegetação havia sido devastada pelos intensos bombardeios. E, como se isso não bastasse, no caminho eles deveriam livrar-se das minas - que, dependendo do tamanho, poderiam arrancar um membro ou mesmo desintegrar um homem -, dos bombardeios e das temíveis "Lurdinhas", as eficientes metralhadoras alemãs, capazes de cortar um inimigo ao meio com apenas uma rajada.
A ideia de tomar o Monte Castelo foi frustrada no primeiro ataque, em 24 de novembro de 1944 por uma falha na combinação entre brasileiros e norte-americanos. O apoio de tanques, manobrados por estes, e artilharia mostrou-se insuficiente e os homens da infantaria que tentavam subir a elevação logo perceberam que seriam uma presa fácil para a chuva de chumbo que os alemães despejaram com seus morteiros, canhões e metralhadoras.
Cinco dias depois seria lançado um novo ataque, apenas com brasileiros. Foi a investida mais devastadora para a FEB. Foram empregados batalhões dos três regimentos, mas a expulsão dos norte-americanos do Monte Belvedere, seguida por um obstinado contra-ataque alemão, apanhou os pracinhas bem na subida.
Em meados de dezembro, as condições do inverno europeu já se faziam presentes na montanha que vinha se convertendo em um mito para os pracinhas. A cobertura aérea, tão necessária para apoiar uma investida morro acima, era inviável. O nevoeiro que impedia a decolagem dos caças-bombardeiros também dificultava o apoio da artilharia. Mesmo assim, o comando decidiu tentar mais uma vez.
Entretanto, após a perda de mais 145 homens, a ordem de retirada foi emitida. O inverno, que tanto havia castigado os homens de Hitler nas planícies soviéticas, seria uma arma importante para imobilizar seus inimigos nas montanhas italianas.
Sem a possibilidade de contar com um apoio preciso da aviação, por causa das nevascas, que também atolavam os tanques e convertiam as estradas em lodaçais intransponíveis até para a infantaria, a divisão brasileira se viu confinada aos foxholes (tocas de raposas) cavados no solo pedregoso e que cumpriam o papel de trincheiras.
As ações militares naquele período limitavam-se aos duelos entre as artilharias, que castigavam até o quartel-general da FEB, localizado na cidade de Porreta Terme, a 30 quilômetros da linha de frente, e as patrulhas. Nelas, grupos que variavam de cinco a 30 homens tinham a incumbência de estabelecer algum contato com o inimigo, monitorando suas posições e deslocamentos.
Mas o grande adversário dos soldados naquele período era o frio, que podia chegar a 20 graus centígrados negativos. "O forte vento dos Apeninos trazia consigo a neve que se desprendia do solo, açoitando os rostos dos homens, a ponto de esfolar a pele e tamborilando os capacetes de aço como chuva de granizo sobre a capota de um carro. O frio era rigoroso a ponto de tornar insensíveis as mãos dos soldados após um curto tempo de vigilância num foxhole", conta o ex-tenente José Gonçalves em suas memórias de guerra.
A isso se somava um terror comum na frente europeia naquele período: o chamado "pé de trincheira" - a gangrena nos pés dos soldados, causada por umidade no sapato, que tinha como consequência a amputação dos membros inferiores. (Com informações do site AH - Aventuras na História)
A transferência de residência para São José, na atual Região Metropolitana de Florianópolis fez bem para a família do Expedicionário Etelvino Silveira de Souza. O pai, Thomaz Silveira de Souza passou a viver mais próximo de seus pais e irmãos; a mãe, Maria Francisca voltou ao convívio de suas irmãs; um lenitivo para a dor da saudade do filho envolvido no maior conflito bélico da história. Para sete dos 11 irmãos de Etelvino, a felicidade por conhecer os avós, tios e primos mais se assemelhava a um conto de fadas. Mas nos momentos de maior alegria a felicidade não se completava pela ausência de Etelvino.
Thomaz, Maria Francisca e os filhos menores continuavam viajando a pé até a casa de Antonia, irmã de Maria Francisca, duas ou três vezes por semana à noite para ouvir no rádio alimentado por energia eólica, notícias sobre combates envolvendo soldados da FEB. O insucesso aliado na tentativa de tomar Monte Castelo e as notícias sobre elevado número de baixas tornavam a volta para casa mais longa e triste. Já em casa, diante da imagem de São Pedro, seu santo protetor, Maria Francisca implorava por proteção e pela volta do filho.
No próximo capítulo; Forças Aliadas travam novas batalhas com o objetivo de conquistar Monte Castelo. Postagem de novo capitulo na próxima segunda-feira.
Ary Silveira de Souza - Editor do JI Online/
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